O sol voltou

Eu moro num lugar muito quente, de muito asfalto e onde as pessoas não tem consciência ambiental ainda. As poucas árvores que existem, muitas vezes são cortadas em prol dos empreendimentos imobiliários sempre crescentes aqui. Meu filho de 11 anos, o Dudu, é muito observador e sempre que volto com ele da escola ele reclama do calor e fala das pessoas que cortam as árvores. São vários grandes tocos pelo caminho. O Dimitri também reclama e pergunta quem foi que cortou as árvores e porque. A minha resposta é evasiva porque nem eu sei. As amendoeiras porque sujam as ruas, as outras porque estouram as calçadas com suas raízes ou qualquer desculpa serve. E eles cortam as árvores, mas as calçadas continuam esburacadas.

Eu moro aqui há 16 anos. De onde eu vim não é diferente. O mesmo descaso. Então não faço idéia de como é viver em uma cidade arborizada como algumas da região de Minas ou do Sul. Aqui imóvel é muito caro porque tem muitas indústrias e o comércio é bom, então tem muito emergente na cidade. Mas qualidade de vida, ah isso não tem. Não tem um bom teatro, um bom cinema, parques pra crianças, a criminalidade é alta. Mas quem mora aqui, não quer ir embora porque aqui tem história. Muitas pessoas que vão morar na Barra da Tijuca, voltam! Eu não entendo bem, não sou daqui...

Hoje, depois das fofocas de família que destruíram a convivência das pessoas que eram próximas a mim; minha vontade de ir embora pra um lugar com mais qualidade de vida muitas vezes aflora. Mas fico entre a cruz e a caldeirinha quando maridex argumenta que o que construimos aqui tem o nosso suor. O desapego pra ele é pior. A cidade é dele, a família é dele. E com meu amor por ele vou ficando, com medo de ir murchando mas renovando esperanças a cada chuva que cai com promessas de novos ventos...

Então, o sol hoje voltou e eu vou mexer no meu pequeno jardim, plantar alguma coisinha pra quando abrir a porta da cozinha de manhã, respirar um pouquinho e encher o pulmão de boas promessas e desejar à todos um dia muito bom!